É o seguinte, eu sei que não sou nenhum CP da vida... Mas leiam o texto abaixo (que é o prefácio de um livro que eu estou escrevendo ) e digam se eu posso ter esperanças de um dia alcançar O cara, ou se eu devo desistir e nem perder meu tempo tentando!
Prefácio
Prefácio
As trevas eram profundas. Eram vazias. Eram frias e cruéis demais. Ao menos era isso o que o jovem Carter, filho de Norton, pensava. Aquelas malditas trevas eram duras demais para serem de verdade. Sempre que estendia a mão, no entanto, ele podia senti-las, como se fossem alguma obra-de-arte maluca criada por Jensen.
Carter estava sentado em uma pedra, olhando para as chamas alaranjadas e vermelhas de sua fogueira improvisada. Pensar em Jensen fez seu rosto se contorcer em uma careta, e ele começou a sentir uma fisgada abaixo da costela, aquela que a maior parte das pessoas tem depois de correr por muito tempo.
Erguendo o rosto para o céu sem estrelas, o rapaz se perguntou quanto tempo ainda restava até alcançar o Valete de Espadas. Não que ele soubesse o nome daquele maldito que sempre andava com a cara pintada, mas “Valete de Espadas” parecia ser um bom nome. Lembrava os antigos vilões das histórias de super-heróis que seu pai costumava contar nos momentos em que não estava bêbado.
— Em quê está pensando, jovem?
Carter tirou os olhos do céu, e encarou Sam, um velho homem cujos pensamentos não eram mais coerentes, e que vivia infernizando a vida do rapaz com frases sem sentido. Ele havia feito a pergunta enquanto tomava um gole de sua garrafinha de couro de rum, então era capaz de já estar ficando bêbado — coisa que ocorria todas as noites, para infelicidade de Carter.
— Em nada. — respondeu o não-mais-aprendiz-e-sim-guerreiro.
— Você não me engana — devolveu o velho cofiando sua barba tão longa que chegava até a cintura. Carter detestava quando ele começava a mexer naquela barba e dar risinhos maliciosos; era como se estivesse contando pra ela um segredo muito, muito constrangedor que envolvia o nome do rapaz.
— Eu não estou enganado você, Sam. — falou com calma, apesar de ser um grande esforço falar sem exibir sua frustração. Por que raios ele tinha de ter aceitado que aquele ancião viajasse consigo?!
— Está sim — disse ele dando outra risadinha, seus dedos brincando dessa vez com o bigode trançado que era semelhante ao de um rato. O velho se curvou na direção do rapaz. Estivera sentado em uma tora velha e apodrecida do lado oposto da fogueira, de frente para ele, e agora seu rosto de queixo comprido e olhos pequenos estava praticamente em cima das labaredas da fogueira, reluzindo como o próprio sol. — Você estava pensando nele. De novo.
Fechando com força o punho, contendo-se para não dar um murro na cara da-quele maldito infeliz, o jovem respirou fundo e contou até três. Quando se achou menos possesso, disse com uma voz que apesar de baixa, continha muito ressentimento:
— Por que isso parece divertir você? Por que você parece achar graça do fato daquele desgraçado que — ora, vejam! — matou minha família, meus amigos e a mulher que eu amava, e arruinou minha vida por completo, povoar meus pensamentos? Hein, Sam? Diga-me!
O velho se limitou a balançar a cabeça, e suspirar, como se estivesse tentando explicar uma coisa relativamente fácil para uma criança teimosa. Sentando-se novamente na tora, ele tornou a bebericar sua garrafinha de rum. Depois de um tempo em silêncio, simplesmente falou:
— Os olhos azuis são encantadores, rapaz. Definitivamente são... Porém, não se engane. Eles não dizem a verdade em momento algum. São olhos mentirosos. Os olhos negros não. Eles são sinceros. Indiferentes na maior parte do tempo, sim, mas sinceros quando devem ser.
Bufando, Carter deitou no chão, já enrolado com sua manta, pronto para dormir.
— Mais alguma coisa que eu deva saber? — perguntou de forma sarcástica.
— Você não está atrás dele só por que quer vingança, Carter.
— Não. Eu estou atrás daquele maldito por que ele matou centenas (se não, milhares!) de pessoas. Pessoas inocentes, Sam. Ele traiu seu reino (se é que ele veio daqui, e não é um demônio vindo do próprio inferno). Traiu nosso Rei Guilherme. Apenas com sangue lava-se a desonra de um homem.
Por um segundo, o guerreiro pensou que o homem decrépito havia adormecido, já que seus olhos estavam fechados, sua respiração calma e seu corpo ligeiramente inclinado para frente. Porém, no instante em que ele fechou os olhos, ouviu um leve murmurar:
— Você está fazendo brotar um sentimento muito perigoso em sua alma, Carter. Algo que pode fazê-lo ficar cego e também torná-lo um homem sozinho na velhice...
Como você?, quis perguntar, mas conseguiu segurar sua língua e não ser grosseiro; o sono já o dominava, e suas pálpebras davam sinal de não quererem se abrir.
Ele juraria na manhã seguinte que tinha ouvido o ancião falar algo como “Sonhe com ele, Carter”, mas não tinha certeza. Além do mais, não era “Bons sonhos”, que se costumava dizer? Talvez um “bom sonho” fosse aquele em que ele matava lenta e dolorosamente o Valete de Espadas, fazendo-o implorar por misericórdia — mesmo que Carter duvidasse que ele fosse o tipo de sujeito que implora pela própria vida.
Seguindo o conselho (ou não) do velho homem, ele sonhou com seu carrasco pessoal. Mas para sua infelicidade, assim como em outras ocasiões, o Valete derrotou-o e fugiu.
Carter estava sentado em uma pedra, olhando para as chamas alaranjadas e vermelhas de sua fogueira improvisada. Pensar em Jensen fez seu rosto se contorcer em uma careta, e ele começou a sentir uma fisgada abaixo da costela, aquela que a maior parte das pessoas tem depois de correr por muito tempo.
Erguendo o rosto para o céu sem estrelas, o rapaz se perguntou quanto tempo ainda restava até alcançar o Valete de Espadas. Não que ele soubesse o nome daquele maldito que sempre andava com a cara pintada, mas “Valete de Espadas” parecia ser um bom nome. Lembrava os antigos vilões das histórias de super-heróis que seu pai costumava contar nos momentos em que não estava bêbado.
— Em quê está pensando, jovem?
Carter tirou os olhos do céu, e encarou Sam, um velho homem cujos pensamentos não eram mais coerentes, e que vivia infernizando a vida do rapaz com frases sem sentido. Ele havia feito a pergunta enquanto tomava um gole de sua garrafinha de couro de rum, então era capaz de já estar ficando bêbado — coisa que ocorria todas as noites, para infelicidade de Carter.
— Em nada. — respondeu o não-mais-aprendiz-e-sim-guerreiro.
— Você não me engana — devolveu o velho cofiando sua barba tão longa que chegava até a cintura. Carter detestava quando ele começava a mexer naquela barba e dar risinhos maliciosos; era como se estivesse contando pra ela um segredo muito, muito constrangedor que envolvia o nome do rapaz.
— Eu não estou enganado você, Sam. — falou com calma, apesar de ser um grande esforço falar sem exibir sua frustração. Por que raios ele tinha de ter aceitado que aquele ancião viajasse consigo?!
— Está sim — disse ele dando outra risadinha, seus dedos brincando dessa vez com o bigode trançado que era semelhante ao de um rato. O velho se curvou na direção do rapaz. Estivera sentado em uma tora velha e apodrecida do lado oposto da fogueira, de frente para ele, e agora seu rosto de queixo comprido e olhos pequenos estava praticamente em cima das labaredas da fogueira, reluzindo como o próprio sol. — Você estava pensando nele. De novo.
Fechando com força o punho, contendo-se para não dar um murro na cara da-quele maldito infeliz, o jovem respirou fundo e contou até três. Quando se achou menos possesso, disse com uma voz que apesar de baixa, continha muito ressentimento:
— Por que isso parece divertir você? Por que você parece achar graça do fato daquele desgraçado que — ora, vejam! — matou minha família, meus amigos e a mulher que eu amava, e arruinou minha vida por completo, povoar meus pensamentos? Hein, Sam? Diga-me!
O velho se limitou a balançar a cabeça, e suspirar, como se estivesse tentando explicar uma coisa relativamente fácil para uma criança teimosa. Sentando-se novamente na tora, ele tornou a bebericar sua garrafinha de rum. Depois de um tempo em silêncio, simplesmente falou:
— Os olhos azuis são encantadores, rapaz. Definitivamente são... Porém, não se engane. Eles não dizem a verdade em momento algum. São olhos mentirosos. Os olhos negros não. Eles são sinceros. Indiferentes na maior parte do tempo, sim, mas sinceros quando devem ser.
Bufando, Carter deitou no chão, já enrolado com sua manta, pronto para dormir.
— Mais alguma coisa que eu deva saber? — perguntou de forma sarcástica.
— Você não está atrás dele só por que quer vingança, Carter.
— Não. Eu estou atrás daquele maldito por que ele matou centenas (se não, milhares!) de pessoas. Pessoas inocentes, Sam. Ele traiu seu reino (se é que ele veio daqui, e não é um demônio vindo do próprio inferno). Traiu nosso Rei Guilherme. Apenas com sangue lava-se a desonra de um homem.
Por um segundo, o guerreiro pensou que o homem decrépito havia adormecido, já que seus olhos estavam fechados, sua respiração calma e seu corpo ligeiramente inclinado para frente. Porém, no instante em que ele fechou os olhos, ouviu um leve murmurar:
— Você está fazendo brotar um sentimento muito perigoso em sua alma, Carter. Algo que pode fazê-lo ficar cego e também torná-lo um homem sozinho na velhice...
Como você?, quis perguntar, mas conseguiu segurar sua língua e não ser grosseiro; o sono já o dominava, e suas pálpebras davam sinal de não quererem se abrir.
Ele juraria na manhã seguinte que tinha ouvido o ancião falar algo como “Sonhe com ele, Carter”, mas não tinha certeza. Além do mais, não era “Bons sonhos”, que se costumava dizer? Talvez um “bom sonho” fosse aquele em que ele matava lenta e dolorosamente o Valete de Espadas, fazendo-o implorar por misericórdia — mesmo que Carter duvidasse que ele fosse o tipo de sujeito que implora pela própria vida.
Seguindo o conselho (ou não) do velho homem, ele sonhou com seu carrasco pessoal. Mas para sua infelicidade, assim como em outras ocasiões, o Valete derrotou-o e fugiu.