Eragon Brasil

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    Bancando o CP

    Oliver
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    Mensagem por Oliver Sáb maio 02, 2009 10:02 pm

    É o seguinte, eu sei que não sou nenhum CP da vida... Mas leiam o texto abaixo (que é o prefácio de um livro que eu estou escrevendo affraid ) e digam se eu posso ter esperanças de um dia alcançar O cara, ou se eu devo desistir e nem perder meu tempo tentando!

    Prefácio
    As trevas eram profundas. Eram vazias. Eram frias e cruéis demais. Ao menos era isso o que o jovem Carter, filho de Norton, pensava. Aquelas malditas trevas eram duras demais para serem de verdade. Sempre que estendia a mão, no entanto, ele podia senti-las, como se fossem alguma obra-de-arte maluca criada por Jensen.
    Carter estava sentado em uma pedra, olhando para as chamas alaranjadas e vermelhas de sua fogueira improvisada. Pensar em Jensen fez seu rosto se contorcer em uma careta, e ele começou a sentir uma fisgada abaixo da costela, aquela que a maior parte das pessoas tem depois de correr por muito tempo.
    Erguendo o rosto para o céu sem estrelas, o rapaz se perguntou quanto tempo ainda restava até alcançar o Valete de Espadas. Não que ele soubesse o nome daquele maldito que sempre andava com a cara pintada, mas “Valete de Espadas” parecia ser um bom nome. Lembrava os antigos vilões das histórias de super-heróis que seu pai costumava contar nos momentos em que não estava bêbado.
    — Em quê está pensando, jovem?
    Carter tirou os olhos do céu, e encarou Sam, um velho homem cujos pensamentos não eram mais coerentes, e que vivia infernizando a vida do rapaz com frases sem sentido. Ele havia feito a pergunta enquanto tomava um gole de sua garrafinha de couro de rum, então era capaz de já estar ficando bêbado — coisa que ocorria todas as noites, para infelicidade de Carter.
    — Em nada. — respondeu o não-mais-aprendiz-e-sim-guerreiro.
    — Você não me engana — devolveu o velho cofiando sua barba tão longa que chegava até a cintura. Carter detestava quando ele começava a mexer naquela barba e dar risinhos maliciosos; era como se estivesse contando pra ela um segredo muito, muito constrangedor que envolvia o nome do rapaz.
    — Eu não estou enganado você, Sam. — falou com calma, apesar de ser um grande esforço falar sem exibir sua frustração. Por que raios ele tinha de ter aceitado que aquele ancião viajasse consigo?!
    — Está sim — disse ele dando outra risadinha, seus dedos brincando dessa vez com o bigode trançado que era semelhante ao de um rato. O velho se curvou na direção do rapaz. Estivera sentado em uma tora velha e apodrecida do lado oposto da fogueira, de frente para ele, e agora seu rosto de queixo comprido e olhos pequenos estava praticamente em cima das labaredas da fogueira, reluzindo como o próprio sol. — Você estava pensando nele. De novo.
    Fechando com força o punho, contendo-se para não dar um murro na cara da-quele maldito infeliz, o jovem respirou fundo e contou até três. Quando se achou menos possesso, disse com uma voz que apesar de baixa, continha muito ressentimento:
    — Por que isso parece divertir você? Por que você parece achar graça do fato daquele desgraçado que — ora, vejam! — matou minha família, meus amigos e a mulher que eu amava, e arruinou minha vida por completo, povoar meus pensamentos? Hein, Sam? Diga-me!
    O velho se limitou a balançar a cabeça, e suspirar, como se estivesse tentando explicar uma coisa relativamente fácil para uma criança teimosa. Sentando-se novamente na tora, ele tornou a bebericar sua garrafinha de rum. Depois de um tempo em silêncio, simplesmente falou:
    — Os olhos azuis são encantadores, rapaz. Definitivamente são... Porém, não se engane. Eles não dizem a verdade em momento algum. São olhos mentirosos. Os olhos negros não. Eles são sinceros. Indiferentes na maior parte do tempo, sim, mas sinceros quando devem ser.
    Bufando, Carter deitou no chão, já enrolado com sua manta, pronto para dormir.
    — Mais alguma coisa que eu deva saber? — perguntou de forma sarcástica.
    — Você não está atrás dele por que quer vingança, Carter.
    — Não. Eu estou atrás daquele maldito por que ele matou centenas (se não, milhares!) de pessoas. Pessoas inocentes, Sam. Ele traiu seu reino (se é que ele veio daqui, e não é um demônio vindo do próprio inferno). Traiu nosso Rei Guilherme. Apenas com sangue lava-se a desonra de um homem.
    Por um segundo, o guerreiro pensou que o homem decrépito havia adormecido, já que seus olhos estavam fechados, sua respiração calma e seu corpo ligeiramente inclinado para frente. Porém, no instante em que ele fechou os olhos, ouviu um leve murmurar:
    — Você está fazendo brotar um sentimento muito perigoso em sua alma, Carter. Algo que pode fazê-lo ficar cego e também torná-lo um homem sozinho na velhice...
    Como você?, quis perguntar, mas conseguiu segurar sua língua e não ser grosseiro; o sono já o dominava, e suas pálpebras davam sinal de não quererem se abrir.
    Ele juraria na manhã seguinte que tinha ouvido o ancião falar algo como “Sonhe com ele, Carter”, mas não tinha certeza. Além do mais, não era “Bons sonhos”, que se costumava dizer? Talvez um “bom sonho” fosse aquele em que ele matava lenta e dolorosamente o Valete de Espadas, fazendo-o implorar por misericórdia — mesmo que Carter duvidasse que ele fosse o tipo de sujeito que implora pela própria vida.
    Seguindo o conselho (ou não) do velho homem, ele sonhou com seu carrasco pessoal. Mas para sua infelicidade, assim como em outras ocasiões, o Valete derrotou-o e fugiu.
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    Mensagem por Alicy.Springs Sáb maio 02, 2009 10:27 pm

    Gostei da historia e fiquei até curiosa para saber como termina, xD
    perguntinha, o carter tem quantos anos ? e o que o valete fez para trair o rei ?
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    Mensagem por Oliver Sáb maio 02, 2009 10:54 pm

    Olha, eu sempre imaginei o Carter com 23 anos, mas não sei se vou fazê-lo com essa idade na história.

    Quanto ao que o Valete fez para trair o rei Guilherme eu não posso falar, senão vou estar dando spoiler de um livro que nem lançou ainda!
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    Mensagem por Stuart Seg maio 04, 2009 2:06 pm

    Cara, gostei de sua narração e de suas palavras.
    Está muito bom mesmo, só tenho algumas pequenas críticas:

    Primeiro e mais simples, troque aquele parênteses, quando ele fala sobre o valete de espadas, por uma travessão/hífen.

    E segundo, como eu ja disse, você escreve muito bem... eu me senti praticamente dentro da história, assim como em livros de profeissionais. Porém faltou algo: detalhes.
    Não gosto de livros extremamente detalhistas como o de Tolkien, mas detalhes são essenciais, e seu prefácio faltou alguns (muitos) detalhes, como por exemplo, a aparência de Carter, o cenário onde estão, a aparência do velho (só sei que ele é barbudo) dentre outras coisas como roupas, clima, etc...

    Eu apenas senti a história, e não consegui imaginar o cenário nem os personagens, e quando eu leio livros com poucos detalhes, eu costumo a associa-los a outros livros. No seu caso, eu imaginei o inicio de "O Pistoleiro", de Stephen King (A Torre Negra), um cenário desertico, céu amarelo, tudo parecido com ruínas, e Roland perseguindo o homem de preto (no seu caso é o Carter perseguindo o Valete de Espadas). E o velho me passou meio desperccebido.

    Não sei se foi isso que você imaginava, mas foi isso que se passou em minha cabeça.


    Enfim, nota 5/10 Very Happy
    Muito bom mesmo, com mais detalhes eu lhe daria a nota 6.
    E receba isso como elogio, eu sou MUITO crítico. Se quer saber minha nota para Eragon, é 7, talvez 7,5. E ainda está alto!

    Mas pode continuar seu trabalho, pois está MUITOO bom, narrativa excelente (com algumas exceções, é claro).


    ~>Stuart.
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    Mensagem por Oliver Seg maio 04, 2009 2:50 pm

    Pra começar: Você está falando do parêntese final, aquele do sonho? *lerdo*

    Cara, me critique à vontade, por que eu não quero que o pessoal simplesmente diga: "Amei", ou "Odiei". Eu quero saber a opinião das pessoas pra eu saber o que deve ou não ser mudado na história. Quero responder a perguntas! *procurando voluntários para fazer perguntas*

    Outra coisa: Fica frio Stuart! Cara, isso é só o Prefácio. Quando o livro começar mesmo, geral vai ver que eu sou meio maníaco por detalhes (a culpa é do CP!). Tipo, eu já tinha escrito dezenas de histórias antes dessa, mas a nota máxima que eu dava para aquilo era no máximo 2,5 (crítico), então eu passei a prestar mais atenção nos livros que eu lia - apesar de saber que cada autor escreve de um jeito, eu queria ver quais eram os pontos parecidos na forma de narrar de bons escritores.

    Definitivamente, o prefácio parece com aquele do Pistoleiro, por que na época eu estava lendo o vol. 1, porém antes mesmo de ler, eu já estava com a idéia do Valete na cabeça (um cara que "traiu" o seu povo), pra falar a verdade, o Valete era quem deveria ser o personagem principal da história, mas quando eu vi o Roland decidi criar o Carter. Só que o Carter e o Roland só tem como semelhança o fato de que perseguem alguém misterioso.

    Como você disse que a história está razoável, eu vou começar a me esforçar mais ainda pra que no final o resultado final seja perfeito (e digno de uma nota 10 de sua pessoa lol! ).

    PS: na verdade eu sou tão cabeça dura, que mesmo que falassem que tava uma droga eu ia continuar, tanto é que já estou escrevendo o capítulo 3.
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    Mensagem por Stuart Seg maio 04, 2009 6:10 pm

    Hehehe, mas é isso ae mesmo cara. Ninguém pode te desanimar, mesmo se eu chegasse aqui falando "nossa! tá uma bo***", vc tinha que erguer a cabeça e continuar escrevendo.

    Só quem escreve sabe qual é o prazer de escrever, de criar um "seu" mundo.
    Eu tô no capitulo 2 do meu livro à 1 ano Razz
    mas não desisti de escreve-lo também, só que não tenho tempo.

    Hahaaa!! Sabia que você tinah pego influência de Stephen King! Achei o prefácio muito parecido com "O Pistoleiro".

    Roland é um personagem perfeito! Acho que é meu personagem favorito, de todos os livros que eu já li. Ainda estou no 5º livro da série, mas acho que até final do ano que vem eu termino.

    Mas é isso ae cara. Poste mais capitulos para nós ae.

    E... conseguir um 10 de mim, garanto que é impossivel. Se "A Primeira Regra do Mago" que é meu livro favorito não consegue receber essa nota, então é impossivel. Very Happy


    ~>Stuart.
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    Mensagem por Oliver Seg maio 04, 2009 6:45 pm

    Pode crer. Você fica ali imaginando que é VOCÊ quem comanda a vida de dezenas de pessoas e faz com elas o que bem entende... Infelizmente, isso não acontece comigo.
    Os meus personagens são tão reais que eles fazem as próprias regras e eu nem sei como é que a história termina! affraid (Pode parecer mentira, mas é verdade).

    Stuart escreveu:
    Eu tô no capitulo 2 do meu livro à 1 ano Razz
    mas não desisti de escreve-lo também, só que não tenho tempo.

    Pois é cara, tempo é o que atrapalha grande parte dos escritores (e outras pessoas também). No meu caso eu to escrevendo o livro há duas semanas (Jake: e só tem 16 páginas de world. Que vergonha, Oliezinho Evil or Very Mad ).

    Stuart escreveu:
    Hahaaa!! Sabia que você tinah pego influência de Stephen King! Achei o prefácio muito parecido com "O Pistoleiro".

    É, mas pode crer que só foi isso que eu peguei do tio King. Acho que eu não conseguiria escrever uma história parecida com a dele (por que o cara é phoda, e isso a gente tem de concordar), ao menos não no mesmo estilo, mas com impacto semelhante.

    Infelizmente, como eu estou escrevendo agora não tenho tido tempo nem pra terminar o vol.1 da Torre Negra (com medo de meter o pé na jaca e ser influenciado por passagens do livro, como aconteceu no prefácio).

    Acho que não vai fazer mal se eu postar o capítulo 1, né? O resto ainda está em revisão.

    PS: Mas que nota você dá para "A Primeira Regra do Mago"? (que a propósito, só agora eu notei que está na minha lista de "Livros que o Olie tem de Comprar")

    @edit:

    Retirado post duplo e adicionado neste.

    Pra quem gostou do Prefácio.
    ------------------------------------------------------------
    Capítulo 1
    Duras Verdades

    A aldeia chamava-se Eldorado, em uma visível alusão a lendária — “e imaginativa”, Carter não cansava de repetir para si mesmo — cidade cujas casas eram feitas de ouro.
    Era pequena e seus habitantes eram humildes. Ao chegaram — mais ou menos quando o sol se encontrava no meio do céu azul e sem presença de nuvens —, Carter e Sam foram recebidos por muitos olhares de desconfiança por parte das pessoas de idade, e de curiosidade das mais novas.
    — De onde você veio? — indagou uma menininha com o cabelo preto preso em um rabo-de-cavalo mal-arrumado, que usava um vestido de algodão antigo azul-que-deveria-ser-da-cor-do-céu-mas-não-era-mais.
    O rapaz que estava tentando ser atendido pelo ferreiro — pois este travava um debate verbal com um homenzinho baixo e gordo, que não queria pagar o preço combinado por uma adaga — olhou para ela, indagando a si mesmo se era uma boa idéia tocar em um assunto tão delicado. Por fim, resolveu que responder a pergunta da pequena não atiçaria tanto assim suas ainda-não-completamente-fechadas cicatrizes.
    Agachando-se até seu rosto ficar na mesma altura que o da menina, ele se apro-ximou e confidenciou no seu ouvido:
    — Eu e aquele senhor viemos de uma cidade Além-das-Montanhas-do-Sul.
    Imaginando inocentemente que havia suprido a curiosidade dela, Carter tornou a se levantar e a esperar pacientemente sua vez de falar com o ferreiro. Até que sentiu um pequeno puxãozinho na manga de sua camisa; a menina parecia não ter terminado.
    — Lá era bonito? — questionou com o rosto reluzindo.
    O rapaz sabia por que a menina brilhava daquela forma, e não era por causa do sol forte. As mulheres desse tempo casavam-se mal seu primeiro fluxo acontecia, e não tinham chance de ver o mundo ao contrário dos homens e com aquela menina não haveria de ser diferente. Ouvir sobre outros lugares era a única forma de ter uma idéia do que havia além dos muros da aldeia.
    Apesar de saber que mulheres eram frágeis e indefesas, Carter não concordava de todo com o fato de que moças jovens devessem obedecer a seus maridos como cães bem treinados obedecem a um dono. Além dos maridos serem quase sempre mais velhos que as meninas-mulheres, a relação entre eles não chegava a ter amor. Em casos especiais, claro, como o de seus pais, ambos podiam conviver e acabar se apaixonando. Mas grande parte das vezes, não era assim.
    “Eu vou me casar com quem bem entender! Não serão meus pais a escolherem o marmanjo que terei de aturar até a morte!”, dizia Celeste, uma moça de cabelos claros e olhos puros, de gênio teimoso e rebelde.
    Sua pele cheirava a morango, e suas mãos eram delicadas. Eram amigos há tantos anos... E depois de voltar do treinamento com um experiente guerreiro que estimava muito — Earl, filho de Layton —, Carter percebeu o quanto Celeste crescera e não era mais a mesma garotinha com quem ele empoleirava-se nas árvores para brincar. Ela tornara-se uma mulher, e ele um homem. E o amor surgiu no instante em que se olharam...
    Uma memória aterrorizante surgiu na mente de Carter: Celeste, sua pequena e amada Celeste, gritando por seu nome. E então as chamas a consumindo-a como a boca faminta e impiedosa de um dragão. O Valete prendia seus braços nas costas firmemente, as minúsculas pedrinhas de cascalho machucando o lado direito do seu rosto que era pressionado insistentemente no chão, enquanto o desgraçado apoiava o joelho em suas costas...
    — Moço? Moço? — chamava a menina cutucando-o.
    — Hã? — fez ele confuso.
    — Eu perguntei pro senhor se de onde veio é bonito.
    — Ah... Sim, sim é muito bonito.
    — O senhor tem família lá?
    De repente, aquela conversa parecia ter sido a pior idéia que tivera em toda a sua vida. Não culpava a menina por seu destino ser inevitável, mas ela precisava mesmo se intrometer tantona vida dele?!
    Quando pensou que estava perdido, e que os pontos cuidadosamente costurados em sua alma iam arrebentar e o ferimento recomeçar a sangrar, uma voz grossa e impaciente gritou:
    — Próximo!
    Apressando-se para fugir daquele verdadeiro interrogatório, ele postou-se na frente do fino balcão de madeira e falou para um homem cor de ébano, que usava luvas e um avental de couro:
    — Eu gostaria de comprar uma espada.
    O negro coçou o queixo, e depois de um tempo falou:
    — Que tipo de espada?
    — Qualquer uma serve.
    — Qualquer uma?
    — Minha única condição é que a lâmina seja tão firme que eu possa batê-la contra uma rocha e nenhum risco seja feito em sua superfície.
    O pedido poderia soar um pouco estranho, mas a verdade era que no seu último encontro com o Valete, aquele vagabundo amaldiçoado usando sua estranha adaga em formato de cruz lhe quebrara a espada que pertencera aos homens de sua família durante seis gerações. De todas as derrotas que sofrera, de todas as vezes que o maldito de cara pintada lhe subjugara, aquela fora a mais humilhante. Perder o que era praticamente uma herança de família foi um golpe dilacerante no orgulho já-muitas-vezes-ferido do rapaz. Só restara o cabo de prata enfeitado com diamantes e safiras — que Carter teve de vender para que ele e Sam não passassem fome e pudesse comprar uma nova arma — e a bainha — que ele havia guardado como recordação. Notar o quão baixo o Valete de Espadas o tinha feito chegar, só aumentava o ódio mortal que ele sentia.
    — Não é muito fácil encontrar espadas assim — comentou o ferreiro dando as costas para o rapaz e abrindo um armário na parede atrás do balcão, expondo dezenas de espadas de todos os tamanhos e tipos de lâmina. Após analisá-las o homem pegou uma ligeiramente curvada e com gume extremamente afiado. — Essa é uma das espadas mais resistentes que eu tenho, mas é também a mais cara rapaz.
    Ele atirou-a e Carter agarrou-a em pleno voo. Virou-a em todos os ângulos e posições possíveis. Parecia realmente ser capaz de cortar placas de ferro sem dificuldades, porém o jovem queria ter certeza absoluta antes de gastar suas preciosas moedas.
    — Aqui — disse o ferreiro como se lesse os seus pensamentos. Ele pôs uma pedra do tamanho de um mamão no balcão e apontou para ela com o dedo enluvado. — Teste a espada aqui.
    Ligeiramente hesitante o rapaz intensificou o aperto em torno do cabo longo e firme, e ergue a espada acima da cabeça, baixando-a em um movimento forte. Tão forte que ela além de ter cortado a pedra ao meio, fincou-se no balcão de madeira.
    Nossa — não pode deixar de falar.
    — Eu disse que ela era boa. Vai levar? É resistente, e flexível. Custa cinco moedas de prata.
    Ainda levemente atordoado por ter usado força desnecessária ao golpear a pedra, Carter tirou o saco de moedas do bolso e pagou pela espada, recusando a bainha quando o homem foi entregá-la.
    — Já tenho uma — ele retrucou indo embora.
    ***

    A caminhada para a pequena pousada em que o rapaz e o velho Sam estavam hospedados era rápida. Na cidade de Eldorado as casas e estabelecimentos eram feitos de madeira e simplicidade, todos juntos como uma cidade de blocos de criança, e sempre que passava por um deles Carter rezava fervorosamente para que a vida daquelas pessoas não fosse afetada pela ganância do rei Dehat.
    Como sempre, ao pensar no quanto Dehat estava destruindo a vida das pessoas (não só da Europa, mas também do mundo!), o assunto voltou-se para o Valete de Espadas. O que sabia sobre aquele que conquistara o seu ódio e rancor, era o fato de que ele servia piamente ao rei e agia como uma espécie de espião/assassino/mensageiro. Um homem cruel e sem alma, o Valete havia sido enviado pelo próprio rei para a cidade de Carter, Saintend, com o objetivo de fazer o máximo número de prisioneiros possíveis — ou se fosse o caso, chacinar a população.
    Na época, todos pensaram que aquilo fosse uma piada. O Valete era apenas um homem que trajava roupas pretas e brancas, bem alto isso era verdade (muitos acreditavam que ele tivesse talvez mais de um metro e noventa), porém magro, com músculos pouco desenvolvidos. Sem contar com o fato de que ele pintava os lábios de preto e passava lápis nos olhos. Unidos com a sua palidez descomunal aquilo o fazia parecer um fantasma, assim como muito dos habitantes desconfiarem de sua sexualidade. Ele não podia fazer mal a ninguém, certo?
    — Eu venho em nome do rei Dehat — ele havia dito ao chegar lá. Todos tinham parado para observar aquela monumental criatura, indagando a si mesmos se não era uma estátua que havia criado vida, ou se era um ser desencarnado. — Minha missão é preparar esta cidade para a chegada de suas tropas e fazer com que vocês se unam a nós.
    — Escuta aqui, ô florzinha! — berrou um homem de aparência rude, e dentes tortos. O Valete virou-se na direção dele lentamente, com a mesma expressão de nada com que havia chegado. — É melhor você ir embora daqui imediatamente, e dizer pro seu reizinho fajuto que nós nunca vamos nos curvar perante ele!
    Brados de concordância vieram da multidão reunida, porém mesmo assim eles pareceram não surtir efeito algum no homem de rosto pintado, muito pelo contrário, ele começou a se aproximar do sujeito que havia gritado, sem medo algum. Passo por passo, ele foi alcançando-o. Sem tirar os olhos pretos do seu rosto. Aqueles olhos lembravam um abismo. Como é que o tal filósofo do Outro Lado dizia? Algo como aquele que encarasse por muito tempo o fundo de um abismo, seria encarado pelo próprio. É. O abismo em pessoa estava encarando aquele homem.
    Passados algum tempo frente a frente, sem uma palavra, o Valete tirou sua adaga em formato de cruz, cuja lâmina possuía dezenas de pequenos espinhos, exatamente como o caule de uma rosa. Ele fincou-a por entre as costelas do pobre coitado, que caiu de joelhos, cuspindo sangue nas botas pretas e repletas de fivelas do Maldito. Ao arrancar a arma mortífera de dentro do homem, todos os cidadãos da cidade de Saintend puderam ver nacos de carne vermelha presos nos espigões.
    Ele tornou a falar, e sua voz permanecia calma e baixa, como se estivesse comentando sobre o tempo e não sobre a vida de centenas de pessoas:
    — Já que não querem atender meu pedido por bem, terei de fazê-los atender por mal.
    Carter lembrava-se daquelas palavras. Lembrava de tudo. Do modo como Celeste se agarrou seu braço no final da frase, buscando uma forma de mandar seu medo embora. Do jeito que seu irmão e os outros moradores apertaram firmemente suas armas, e aqueles que não tinham, apertavam pedras e tijolos para assim usá-los como armas. Do silêncio que se seguiu ao não-discurso do Valete. Ele era pesado, Carter ainda podia senti-lo. Era pesado como um cadáver e mortal como aquela adaga em formato de cruz que estava banhada em sangue.
    E o principal: Carter lembrava como todos ficaram aliviados ao ver o Valete de Espadas girar nos calcanhares e ir embora balançando seu casacão preto. As pessoas acreditavam mesmo que ele tinha partido por que pensara que não poderia com elas todas juntas? Carter sabia que não tinha acabado. O “terei de fazê-los atender por mal” ainda estava fresco em sua mente. O Valete não fora embora por que era fraco perante a multidão. Sua postura mostrava que ele poderia muito bem acabar com todos ali sem suar.
    Ele só não queria estragar sua diversão doentia.
    Afinal de contas, qual seria a graça se todos morressem de forma rápida?
    ***

    O velho Sam observava de forma atenta Carter. Este, nem sequer notava; parecia ocupado demais analisando o nem-um-pouco-interessante-nada. Ele sabia que o rapaz estava pensando na tarde fatídica. Mais especificamente no seu primeiro encontro com o Valete. Suspirando, o ancião ergueu-se do banquinho que o quarto que os dois haviam alugado possuía. Jamais imaginaria que o senso de vingança do rapaz que se encontrava encolhido em uma das camas do pequeno cômodo, pudesse ficar tão forte.
    Dois anos haviam se passado. Dois anos inteirinhos. Se fosse outra pessoa Carter talvez já tivesse guardado toda a dor em algum compartimento no fundo de seu corpo e começado a refazer sua vida. No entanto, o rapaz não era qualquer um. Não o tipo de homem que quer apenas subir na vida, e sim o tipo de homem que segue o caminho do certo. E Sam sabia que aquele moleque miserável havia enfiado na cabeça que matando o Valete de Espadas (um nome muito ridículo na opinião dele, que com o tempo, no entanto, passou a ser aceitável) estaria “fazendo um grande bem para a humanidade”. Não discordava que a morte de um homem tão perverso quanto o guerreiro favorito do rei Dehat, seria a justiça para todos aqueles que haviam perecido em suas mãos.
    Mas Carter não pensava daquela forma. Ele fazia o que seu coração ordenava e não pensava o efeito que seus atos poderiam ter em seu futuro, deixando o senhor particularmente irritado. Um dos sobreviventes da carnificina que arrasou a cidade de Saintend, que queria saciar sua sede de vingança. E muito mais do que isso. Sim, ele podia não ser mais nenhum jovenzinho e sua mente podia lhe pregar peças às vezes, mas não era a primeira vez que via sentimentos como aqueles nos olhos de Carter, nos olhos de outros grandes guerreiros. Um sentimento muito perigoso de fato.
    — O homem que guarda sentimentos assim em seu coração, meu rapaz — Sam começou a dizer, apesar de não ter certeza de que Carter estivesse prestando atenção — é tão imbecil quanto o homem que toma veneno puro...
    — Não comece com suas baboseiras, Sam — alfinetou o outro. — Eu estou cansado demais para escutá-las.
    — Quando se trata de duras verdades, Carter, todos estão cansados demais para escutá-las.
    Stuart
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    Mensagem por Stuart Qua maio 06, 2009 2:13 pm

    Minha nota para "A Primeira Regra do Mago" é 8.

    Humm, vamos lá cara... perfeito. Sua narração é incrível, nada a ver com Paolini, mas me lembra MUITO Stephen King. Muito mesmo cara!
    Acho que é por isso que estou gostando tanto de lê-la.

    Mas alguns pequenos comentários: "azul-que-deveria-ser-da-cor-do-céu-mas-não-era-mais" e algumas outras palavras desse tipo, conseguem tirar a "mágica" que me prende à narração.
    E a história... estava me agradando no prefácio (apesar da falta de detalhes), porém no primeiro capitulo ela me desagradou (apesar de agora os detalhes estarem bons). É o seguinte, eu esperava que você mantesse o segredo do "Valete de Espadas", assim como Stephen King mantem o segredo do homem de preto. Isso faz com que o leitor tenha uma imensa curiosidade para continuar lendo o livro sem conseguir parar.
    Mas você acabou com isso logo no primeiro capitulo, ao revelar a relação do Valete com o Rei. Tudo bem que ele tenha seus mistérios ainda, mas me senti triste por ser alguém tão... "comum".
    Claro que eu percebi o que você quis passar: a imagem do 'pior vilão do mundo', doentio e inconsequente.
    Mas mistérios me agradam mais do que violência! Very Happy

    Ok, ok, pode continuar que você será o próximo Stephen King de nossa geração!

    PS: sua narração é 10x melhor do que a minha, e eu estou considerando-a melhor do que CP em seu primeiro livro. Para apenas 17 anos, está realmente incrivel, resta ver agora suas idéias e o desenrolar da história, pois não só de boa-narração é feito um livro! Wink


    ~>Stuart.
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    Mensagem por Oliver Qua maio 06, 2009 4:03 pm

    Stuart escreveu:
    É o seguinte, eu esperava que você mantesse o segredo do "Valete de Espadas", assim como Stephen King mantem o segredo do homem de preto. Isso faz com que o leitor tenha uma imensa curiosidade para continuar lendo o livro sem conseguir parar.
    Mas você acabou com isso logo no primeiro capitulo, ao revelar a relação do Valete com o Rei. Tudo bem que ele tenha seus mistérios ainda, mas me senti triste por ser alguém tão... "comum".
    Claro que eu percebi o que você quis passar: a imagem do 'pior vilão do mundo', doentio e inconsequente.
    Mas mistérios me agradam mais do que violência! Very Happy

    Mas eu não sou o Stephen King, Stuart! Sou apenas um humilde escritor com um turbilhão de idéias na cabeça! Sad

    Apesar de que seria divertido ser tão famoso quanto o tio King *leva pedrada*

    Sabe qual é a parte mais engraçada? É quando você pensa que descobriu toda a verdade sobre o Valete. É ingenuidade julgar o Valete como alguém "normal". Eu jamais faria um antagonista tão "plano" - até por que é como se o Valete tivesse criado vida e decidido fazer suas próprias escolhas, sem nem pedir a minha opinião. Lembre-se de uma coisa: Aquilo que foi contado no capítulo 1 foram lembranças do Carter. A imagem do "pior vilão do mundo" é a que o Carter criou. O que você pensaria sobre o homem que destruiu a sua vida? Qual seria a sua imagem dele? (está acompanhando o raciocínio?)

    Além do mais, você e o próprio Carter, não se indagaram do principal: O Carter deixou bem claro que já teve várias lutas com o Valete depois da chacina em Saintend. Já que é assim, por que o "pior vilão do mundo" não o matou logo de uma vez, para finalizar com chave de ouro (o único sobrevivente de Saintend, derrotado humilhantemente [segundo a linha de pensamento do Carter]) sua diversão doentia? Com que propósito ele faria isso?

    PS: Tem certeza que "A Primeira Regra do Mago" é seu livro preferido?? affraid
    Cara, eu dou nota 1 milhão para "A Menina que Roubava Livros". xP
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    Mensagem por Stuart Qua maio 06, 2009 4:40 pm

    Sim sim, eu entendi isso, tanto que lhe falei, sei que você esconde os mistérios desse vilão na manga.

    Mas é que eu me apaixonei tanto com o "Homem de Preto", que criei ele como um exemplo de vilão para todos os livros. E no seu préfacio, eu tinha comparado o Valete de Espadas ao "Homem de Preto", por isso perdi toda essa empolgação =P

    Mas é claro que você não é SK, e seu livro tem que ter personalidade também oras. Se imitasse o Homem de Preto com certeza ficaria sem graça.


    Cara... eu sou louco para ler "A Menina que Roubava Livros", mas até hoje não deu =/
    Um dia ainda lerei. Por enquanto é "A Primeira Regra do Mago" meu livro favorito sim! Very Happy


    ~>Stuart.
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    Mensagem por Cloud XXIII Ter Jan 19, 2010 3:54 pm

    Olha, eu só quero dizer que gostei muito do primeiro capítulo. Achei muito interessante, era um livro que seria capaz de ler se o primeiro capítulo for tão bom como os outros. Parabéns, a sério.
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    Mensagem por Er@agon-bjartluskar Seg Ago 30, 2010 6:01 pm

    Hum.
    Ficou bom

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